Por que adicionar enzimas em rações de monogástricos?

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Visando aumentar a eficiência das rações, as enzimas exógenas estão ganhando cada vez mais espaço nas dietas de monogástricos.

A ração de monogástricos no Brasil é quase inteiramente formulada a partir de dois ingredientes básicos: o milho, como excelente fonte energética, e o farelo de soja que contribui com proteínas de alta qualidade e grande disponibilidade de aminoácidos. Porém, sabe-se que os nutrientes oriundos desses alimentos não são absorvidos em sua totalidade, principalmente pela presença de fatores antinutricionais, como polissacarídeos não amiláceos, ácido fítico1,2.

Além do milho e farelo de soja, a variedade de grãos no Brasil é grande, o que permite flexibilização de utilização de determinados ingredientes que apresentem preços reduzidos, principalmente em períodos de entressafra ou oscilação de preço no mercado de grãos. No entanto, alguns ingredientes apresentam restrições quanto ao seu uso na formulação das dietas, por conterem fatores antinutricionais, que prejudicam o desempenho, e consequentemente, resultam em baixa uniformidade e lucratividade da produção3. Os fatores antinutricionais não são tóxicos para os animais, mas sua presença no alimento resulta em crescimento reduzido, conversão alimentar ruim e baixos índices produtivos. Portanto, mecanismos para melhorar o desempenho dos alimentos dados aos animais tornam-se necessários3,4.

Visando aumentar a eficiência das rações, as enzimas exógenas são eficientes catalisadores biológicos que vem ganhando cada vez mais espaço nas dietas de monogástricos e se tornando uma ótima alternativa, pois melhora a digestibilidade dos alimentos, minimizando os efeitos antinutricionais e favorece os índices de produtividade5.

As enzimas exógenas são adicionadas nas dietas para complementar a ação das enzimas endógenas, ou de forma aditiva, para suplementar as não sintetizadas ou sintetizadas em quantidades insuficientes pelo organismo dos animais (β-glucanases, pentosanas, e α-galactosidases)6.

Além da preocupação em reduzir os efeitos antinutricionais dos alimentos e melhorar o aproveitamento dos alimentos, a redução de custos de produção com a alimentação tem sido muito discutida, principalmente devido a oscilação dos custos de matéria prima que temos presenciado nos últimos meses4. O uso de enzimas exógenas pode reduzir os custos das rações e representa, sem dúvida, uma das alternativas mais versáteis para auxiliar na melhoria de rentabilidade na produção7.

Nos alimentos de origem vegetal, o nutriente fósforo se encontra em média com 34% na forma disponível e aproximadamente 66% indisponível sob a forma de ácido fítico ou fitato9,10,11,12. O fitato por sua vez é um importante fator antinutricional, pois durante a passagem do alimento no trato digestório pode reagir e se complexar com outros nutrientes, formando complexos altamente reativos e insolúveis, os quais os monogástricos não conseguem utilizar4,11,12. Nesse sentido, a fitase é uma enzima utilizada na nutrição de suínos e aves, e que possui como principal objetivo inibir os fatores antinutricionais do fitato presente nos ingredientes vegetais, melhorando a utilização do fósforo e de outros nutrientes que estão ligados ao fitato, reduzindo a excreção desses nutrientes para o ambiente, possibilitando a  redução da suplementação de fósforo inorgânico e  consequentemente reduzindo o custo da ração final12,13.

Polissacarídeos não amiláceos (PNAs) é o termo usado para se referir à porção antigamente referida como fibra bruta nos ingredientes vegetais, são carboidratos polissacarídeos, exceto o amido, que elevam a viscosidade das dietas pois os PNAs têm um alto poder de retenção de água e consequentemente dificulta a ação enzimática, aumentando a carga de nutrientes não degradados. Os animais monogástricos, em geral, não possuem a capacidade endógena de digerir as fibras14.

As carboidrases compreendem as amilases, pectinases, β-glucanases, arabinoxilanases, celulases e hemicelulases, cujos substratos são o amido, β-glucanos, arabinoxilanos, celulose e hemicelulose, respectivamente15. Este grupo de enzimas é responsável pela hidrólise dos carboidratos, tendo como finalidade melhorar o aproveitamento da energia dos ingredientes nas rações16,17. Adicionalmente, ocorre a liberação do conteúdo celular que se torna disponível à digestão enzimática, aumentando, desta forma, a digestibilidade de alguns dos nutrientes presentes nos alimentos utilizados nas rações de monogástricos7,18,19.

A proteína é o nutriente que mais onera o custo das rações, e o farelo de soja é um dos principais ingredientes proteicos das rações7. De acordo com Leite et al20 as proteínas dos ingredientes não são utilizadas em sua totalidade pelos animais e com isso uma fração da proteína alimentar é excretada nas fezes após ser ingerida21. Com isso a inclusão de enzimas proteases na dieta pode melhorar o valor nutricional através da hidrólise de certos tipos de proteínas que resistem ao processo digestivo através da complementação das enzimas digestivas. Além disso, a adição de proteases exógenas pode inativar fatores antinutritivos, tais como lectinas, proteínas antigênicas e inibidores de tripsina, presentes 4,22. Com o aumento da utilização da proteína da alimentação, a adição da enzima oferece a possibilidade de reduzir a quantidade de proteína incluída na dieta, e, assim, favorecer a economia de matérias primas dispendiosas, tais como o farelo de soja21.

O fato de as enzimas serem específicas em suas reações determina que os produtos que tenham só uma enzima sejam insuficientes para produzir o máximo benéficio23. Inúmeras pesquisas têm demonstrando que a associação de diferentes tipos de enzimas sejam mais efetivas pois promove melhores resultados de desempenho, pelo fato de atuarem de forma conjunta e sinérgica, fazendo com que algumas enzimas degradem componentes dos alimentos que sofrerão posteriormente a ação de outras enzimas associadas a este complexo enzimático ou até das enzimas endógenas24 .

Considerando todos os efeitos antinutricionais citados anteriormente, pelos benefícios obtidos, as enzimas fitase e carboidrases são ferramentas nutricional importante para reduzir a inclusão de fosfato e outros ingredientes, diminuir o custo de formulação da ração, diminuir a excreção de nutrientes, melhorar a disponibilidade de nutrientes presente nos ingredientes vegetais e garantir melhor aproveitamento e desempenho dos animais.

Miliane Alves

Nutricionista de Aves- Núttria Nutrição Animal

Referências:

1. Oliveira RF. Adição de protease exógena em dietas fareladas e peletizadas para frangos de corte. Dissertação... Universidade de São Paulo- Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia- Pirassununga, SP. 2014.

2. Barbosa NAA; Sakomura NK; Fernandes JBK; Dourado LRB. Enzimas exógenas no desempenho e na digestibilidade ileal de nutrientes em frangos de corte.  Pesquisa AGropeciária Brasileira, c.43, n.6, p.755-762, 2008.

3. Herbots I et al. Enzymes, 4. Non-food Application. In Ullmann’s Encyclopedia of Industrial Chemistry; Wiley-VCH Verlag GmbH, Co. KGaA: Weinheim, Germany, 2008.

4. Cowieson AJ, Hruby YM, Pierson EEM. Evolving enzyme technology: Impact on commercial poultry nutrition. Nutrition Research Reviews, Cambridge, v. 19,n. 1, p. 1-15, 2006;

5. Barbosa, N.A.A. et al. Digestibilidade ileal de frangos de corte alimentados com dietas suplementadas com enzimas exógenas. Comunicata Scientiae, v. 5, n. 4, p. 361-369, 2014.

6. Campestrini E, Silva VTM, Appelt MD. Utilização de enzimas na alimentação animal. Revista Eletrônica Nutritime, v. 2, n. 6, p. 254-267, 2005.

7. Lima MR, Silva JHV, Araujo JÁ, Lima CB, Oliveira ERA. 2007. Enzimas exógenas na alimentação de aves. Acta Veterinaria Brasilica, v.1, n.4, p.99-110, 2007.

8. Oliveira EM. Diferentes inclusões de fitase em dietas de frangos de corte. [Tese]. Goiânia: Universidade Federal de Goiás; 2016.

9. Walk CL, Bedford MR, Santos TS, Paiva D, Bradley JR, Wladecki H, Honaker C, McElroy AP. Extra-phosphoric effects of superdoses of a microbial phytase. Poult. Sci. 2013; 92 (3): 719-725. 3.

10. Brunelli SR, Pinheiro JW, Bridi AM, Fonseca NAM, Silva CA, Oba A. Efeitos da fitase no desempenho e na qualidade da carne de frangos de corte. Ciências Agrárias. 2012; 33 (2): 3279-3286.

11. Sommerfeld V, Schollenberger M, Kuhn I, and Rodehutscord M. Interactive effects of phosphorus, calcium, and phytase supplements on products of phytate degradation in the digestive tract of broiler chickens. Poult. Sci. 2018; 0: 1–12.

12. Cowieson AJ, Aureli R, Guggenbuhl P, Fru-Nji F. Phytate-free nutrition: a new paradigm in monogastric animal production. Journal Animal Feed Science. 2016; 222, 180–189.

13. Sousa JPL, Albino LFT, Vaz RGMV, Rodrigues KF, Silva GF, Renno LN, Barros VRSM, Kaneko EM. The effect of dietary phytase on broiler performance and digestive, bone, and blood biochemistry characteristics. Revista Brasileira de Ciência Avícola. vol.17 no.1 Campinas Jan./Mar. 2015.

14. Cardoso DM, Maciel MP, Passos DP, Silva FV, Reis ST, AIURA FS. Efeito do uso de complexo enzimático em rações para frangos de corte. Archivos de Zootecnia, v.60, n.232, p.1053 – 1064, 2011.

15. Buchanan NP, Kimbler LB, Parsons AS et al. The effects of nonstarch polysaccharide enzyme addition and dietary energy restriction on performance and carcass quality of organic broiler chickens. J. Appl. Poultry Res. 16:1-12, 2007.

16. Amerah AM. Interactions between wheat characteristics and feed enzyme supplemenation in broiler diets. Animal Feed Science and Technology 199, p.1 -9, 2015.

17. Li Y. Effects of beta-mannanase expresed by pastoris in corn-soybean meal diets on broiler performance, nutriente digestibility, energy utilization and immunoglobulin levels. Animal Feed Science and Tecnology, v.159, n.1, p. 59-67, 2010.

18. Romero JS, Sands SE, Indrakumar PW, Plmstead S, Ravidran V. Contribution of protein, starch, and fat to the apparent ileal digestible energy of corn- and wheat-based broiler diets in response to exogenous xylanase and amylase without or with protease. Poultry Science, 93 (10): 2501 – 2513, 2014.

19. Andrade TS. Enzimas em dietas com redução nutricional para frangos de corte. Dissertação... Universidade Estadual do Oeste do Paraná- Campus de Marechal Cândido Rondón, Marechal Cândido Rondón- PR, 2015.

20. Leite PRSC, Mendes FR, Luzia M, Pereira R, Lacera MJR. Limitações da utilização da soj a integral e farelo de soja na nutrição de frangos de corte. Enciclopédia Biosfera, Centro Científico Conhecer, Goiânia, v.8, n.15; p. 2012.

21. Glitso S, Rooke JÁ, Galbraith H, Bedford MR. The potential for the improvement in the nutritive value of soya-bean meakl by different proteases in brouker chicks and broiler cockerels. British Poultry Science, v.8, n.4, p.172-175, 2012.

22. Santos Neto LD. Complexos enzimáticos em rações para frangos de corte. Dissertação... Universidade Federal de Goiás; 2016.

23. Tejedor AA, Albino LFT, Rostagno HS, Lima CR, Vieites FM. Efeito da Adição de Enzimas em Dietas de Frangos de Corte à Base de Milho e Farelo de Soja sobre a Digestibilidade Ileal de Nutrientes. Revista Brasileira de Zootecnia. vol.30 no.3 Viçosa, 2001.

24. Sakomura NK, Barbosa NAA, Dourado LRB. Enzimas na Nutrição de Monogástricos. In: Samokura NK, Silva JHV, Costa FGP, Fernandes JBK, Hauschild L. Nutrição de Não Ruminantes (1ºEd) p.677, 2014.

 

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