Alimentação suplementar na maternidade: uso de sucedâneos lácteos
Nos últimos anos observamos grande avanço no melhoramento genético de suínos, o que gerou melhorias significativas de índices zootécnicos, índices reprodutivos e de qualidade de carne e carcaça, porém, algumas limitações não foram totalmente solucionadas e outras limitações surgiram. O aumento do número de leitões nascidos vivos por leitegada tem sido um dos principais objetivos da indústria, em contrapartida, em leitegadas numerosas observamos também aumento na desuniformidade e menor viabilidade de leitões (9; 11).
Técnicas de manejo têm sido utilizadas para contornar estes problemas, como a transferência de leitões e adequações dos lotes de fêmeas (peso, idade e condição corporal). A transferência de leitões, apesar de um manejo importante, se não realizado com prudência e no período adequado, pode afetar o desempenho dos leitões devido ao aumento de comportamento de brigas, como mostra gráfico do estudo abaixo (adaptado de Giroux et al. (4)):
Adotado = Leitões transferidos (6 dias pós-parto); Normal = Leitões que permaneceram em suas leitegadas de origem, mas que receberam leitões transferidos (6 dias pós-parto); Controle = Leitões que permaneceram com suas mães e leitegadas de origem.
Em muitos casos pode-se obter resultados quantitativos aparentemente bons, como aumento no número de leitões viáveis e desmamados, e em contrapartida a qualidade dos animais desmamados (refletida pelo peso final ao desmame) estar prejudicada, gerando problemas de desempenho que irão se manifestar nas fases subsequentes de creche, crescimento e terminação. Apesar do aumento de leitões nascidos vivos por leitegada, a quantidade de colostro e leite produzidos pela fêmea não aumenta, assim como quantidade de tetos viáveis, e, portanto, a quantidade de colostro/leite disponível por leitão é significativamente menor em leitegadas maiores (2). Essa menor quantidade de colostro e leite gera intensa competição por tetos, e os leitões mais leves são os que perdem a “briga”, aumentando a desuniformidade e a mortalidade nesta fase (10).
A mortalidade na fase de maternidade pode ter diversas causas, sendo as principais: esmagamento, hipotermia e hipoglicemia (1). Leitões recém-nascidos possuem baixa capacidade de termorregulação, devido à baixas reservas de gordura corporal e baixos níveis de glicose disponível (glicogênio armazenado), o que os tornam dependentes quase que exclusivamente da ingestão de colostro e leite para sua sobrevivência (5). O baixo consumo de energia pode levar os animais à um quadro de hipoglicemia e consequentemente hipotermia, o que gera apatia e refugagem favorecendo a ocorrência de esmagamentos. Por isso, para minimizarmos as perdas de leitões na maternidade é importantíssimo o rápido e constante fornecimento de energia.
O uso de estratégias nutricionais, como o uso de sucedâneos lácteos e fornecimentos de dietas complexas pré-iniciais fornecidas via creep-feeding geram bons resultados sobre o desempenho de leitões durante o período de maternidade (12), principalmente para leitões de baixo peso, o que repercute em melhoria no desempenho dos animais nas fases subsequentes. O uso de sucedâneos lácteos é uma ferramenta que se mostra eficaz no aumento do peso ao desmame, pela compensação da produção insuficiente de leite de fêmeas suínas hiperprolíficas. Estudos demonstram que leitões que recebem suplementação com sucedâneos lácteos na maternidade apresentam maior peso ao desmame (6; 3; 8). Estes benefícios tendem a ser mais evidentes para leitões de baixo peso ao nascer, e para leitegadas de porcas em situações de baixa produção de leite (calor, mastite, etc.).
É importante ressaltar que o uso do creep-feeding com ração formulada com ingredientes altamente digestíveis continua sendo essencial no manejo alimentar e nutricional da maternidade, e que o uso de creep-feeding associado ao uso de sucedâneos lácteos promove maior ganho de peso e maior preparo do trato gastrointestinal dos leitões para o consumo de dietas sólidas após o desmame (12). Leitões que consomem sucedâneo lácteo + ração via creep feeding na maternidade apresentaram ganho de peso superior comparados à leitões com acesso somente à ração via creep feeding (7). Também é importante frisar que o uso de sucedâneos lácteos não substitui a fêmea, mas sim é uma importante ferramenta nutricional que pode ser utilizada nesta fase, a fim de compensar a insuficiente produção de leite de fêmeas hiperprolíficas.
Um sucedâneo lácteo que vêm demonstrando ótimos resultados à campo é o Denkapig Lacto Start, produto formulado pela multinacional Denkavit, que firmou recentemente parceria com a Núttria. O Denkapig Lacto Start se apresenta como sucedâneo lácteo formulado com ingredientes de altíssima qualidade e biodisponibilidade, os quais fornecem composição nutricional adequada à suplementação do leite da fêmea suína nesta fase, conforme tabela comparativa abaixo:
Como usar o Denkapig Lacto Start
• Iniciar a partir do dia 02 e fornecer até o 12º-14º dia de idade;
• Diluição: 150 gramas de Denkapig Lacto Start diluídos em 1 litro de água (preferencialmente diluir em água a temperatura de 40-45ºC, até diluição total do produto);
• O fornecimento deve ser de 2 a 3 vezes ao dia, em cochos limpos, que devem ser esvaziados ao menos uma vez ao dia.
• Iniciar a partir de 12-14 dias o fornecimento de ração formulada para a fase de maternidade via creep feeding.
Para que os ganhos em prolificidade na granja possam ser totalmente aproveitados, é essencial o atendimento das exigências nutricionais e energéticas dos leitões neonatos. A adoção de manejos nutricionais na maternidade, como o uso de sucedâneos lácteos e ração via creep feeding conseguem driblar o problema de baixa disponibilidade de leite e baixo consumo (principalmente para leitões nascidos leves e fêmeas em situações de menor produção de leite), além de promover melhor preparo fisiológico do trato gastrointestinal dos animais para o consumo de ração após o desmame. Esses benefícios permitem expressão do máximo potencial genético para desempenho dos animais, podendo resultar em expressivo retorno ao investimento.
Patrícia Versuti A. Alvarenga - Nutricionista de Suínos e André Hagemann - Parcerias Estratégicas Núttria
Referências Bibliográficas
(1) CYPRIANO, C. R. Alternativas de manejos em leitões neonatos para melhorar o desempenho na fase lactacional. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2008. 48f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2008; (2) DEVILLERS, N.; FARMER, C.; LE DIVIDICH, J.; PRUNIER, A. Variability of colostrum yield and colostrum intake in pigs. Animal, p.1033 – 1041, 2007; (3) ENGLISH, J. G. H.; BILKEI, G. THE effect of litter size and littermate weight on pre-weaning performance of low-birth-weight piglets that have been crossfostered. Animal Science, v.79, p.439–443, 2004; (4) GIROUX, S.; ROBERT, S.; MARTINEAU, G.P. The effects of cross-fostering on growth rate and post-weaning behavior of segregated early-weaned piglets. Canadian Journal of Animal Science, v.80, p.533–538, 2000. (5) HERPIN, P.; DAMON, M.; LE DIVIDICH, J. Development of thermoregulation and neonatal survival in pigs. Livestock Production Science, v.78, p.25–45, 2002; (6) KIM, J. H., K. N. HEO, J. ODLE, I. K. HAN, AND R. J. HARRELL. Liquid diets accelerate the growth of early-weaned pigs and the effects are maintained to market weight. Journal of Animal Science, v.79, p.427–434, 2001.; (7) LIMA, G.J.M.M.; MANZE, N.E; MORÉS, N. Manejo nutricional dos leitões nas fases de maternidade e creche e seus efeitos no desempenho. In: VII Fórum Internacional de Suinocultura. Foz do Iguaçu. Anais... p.264-278. 2014.; (8) MORISE, A.; SEVE, B.; MACE, K.; MAGLIOLA, C.; LE HUEROU-LURON; I.; LOUVEAU, I. Growth, body composition and hormonal status of growing pigs exhibiting a normal or small weight at birth and exposed to a neonatal diet enriched in proteins. Brasilian Journal of Nutrition, v.105, p.1471–1479, 2011. (9) QUINIOU, N.; DAGORN, GAUDRE, D. Variation of piglets’ birth weight and consequences on subsequent performance. Livestock Production Science, v.78, p.63-70, 2002. (10) RUTHERFORD, K. M. D.; BAXTER, E. M.; D’EATH, R. B.; TURNER, S. P.; ARNOTT, G.; ROEHE, R.; ASK, B.; SANDOE, P.; MOUSTSEN, V. A.; THORUP, F.; EDWARDS, S. A.; BERG, P.; LAWRENCE, A. B. The welfare implications of large litter size in the domestic pig I: biological factors. Animal Welfare, v.22, p. 99 – 218, 2013. (11) WOLF, J.; ŽAKOVA, E.; GROENEVELD, E. Within-litter variation of birth weight in hyperprolific Czech Large White sows and its relation to litter size traits, stillborn piglets and losses until weaning. Livestock Science, v.115, p.195–205, 2008. (12) ZIJLSTRA, R.T.; WHANG, K. Y.; EASTER, R.A.; ODLE, J. Effect of Feeding a Milk Replacer to Early-Weaned Pigs on Growth, Body Composition, and Small Intestinal Morphology, Compared with Suckled Littermates. Journal of Animal Science, v.74, p. 2948-2959, 1996.
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